Quanto ao que concernem aos dogmas da religião, a razão é totalmente incompetente e cega, e seu uso deve ser repreendido. Sem dúvida, nada é mais absurdo do que a blasfêmia dos que teimam em por à prova a existência de Deus; seu erro provém do orgulho que sentem ao supor que sua filosofia busca a verdade, de modo que tem como autoridade a própria razão e só a ela se submete. Razão esta que, ao contrário do que aparenta, dissipa-se como todas suas outras quimeras diante do mais fraco lampejo do archote da filosofia.
Seduzidos pela ilusão de uma vivência plena, esses membros da "igreja maior, sem padres, messias e sem até mesmo um Deus", fazem do que chamam por filosofia um empecilho ao qual concederam o direito imaginário de perpetrar seus princípios. Com tal modo de conhecimento que, tão limitado, não aprendem a essência das coisas que é uma só; vêem somente os fenômenos que aparecem isolados, divisos, inumeráveis, diversos e não menos contrários.
Quando remontamos às épocas mais remotas, encontramos, lamentavelmente, outras garantias do absurdo sistema a não ser entre os povos mergulhados nos erros mais grosseiros. Se examinarmos as causas possíveis que permitiram a esta inépcia horrenda ser admitida, as encontramos na política, no terror e na ignorância: mas, independentemente da origem dessa opinião, resta saber se ela tem fundamentos.
O caráter rígido e sistemático do Protestantismo também os leva — em seu austero dogmatismo e sua resoluta definição de doutrinas apenas indicadas na Bíblia e, de fato, sobre fundamentos muito vagos — a apresentar perfis rígidos a essas doutrinas e colocar interpretações severas sobre o cristianismo: e, como se Deus fosse criar um ser a partir do nada, o proibir de certas coisas e ordenar-lhe outras; e porque esses comandos não são obedecidos, torturar esse ser por toda a eternidade com toda angústia concebível!
Efetivamente, enquanto o conhecimento estiver sujeito ao princípio de individuação, enquanto se guiar pelo princípio de razão, o poder dos motivos será irresistível; mas apenas o princípio de razão haja sido penetrado, apenas se tenha compreendido diretamente existir a vontade celestial, todos seus sofistas não podem produzir nada mais adequado para preservar uma liberdade racional e humana do que o método que temos perseguido, e têm escolhido nossa natureza ao invés de suas especulações, seus fôlegos e suas invenções. É um terreno minado aquele sobre o qual está colocada a felicidade temporal e sobre que, neste mundo, a sabedoria errante perambula.
Por Leopoldo Aurer
Ateísmo,razão plena sobre o ilusionismo criado pelo ser humano por simplesmente medo.